22 de abril de 2018

C.R.E.E.P.Y: A CASA


C.R.E.E.P.Y: A CASA
Esta série é um compilado de histórias de terror psicológico, suspense, mistério e que sempre irão trazer uma reflexão sobre o mundo em que vivemos. Diversos universos serão explorados aqui. Esta história não tem a intenção de ofender ninguém. Fatos que se assemelhem com a realidade podem se tratar de coincidência ou realmente de algo verídico. Concentre-se e entre no clima.



...

Ninguém mais pode me ajudar... Estou preso... Me chamo Ullin. Essa fita é a única coisa que pode preservar minha memória, por isso, escute com atenção o que vou lhe contar. É possível que me apelide de louco ou coisa parecida, mas tenho certeza de minha sobriedade. Eu passei dias observando aquela casa depois que aceitei o trabalho de cuidador do Senhor Felipe. Ele era um velho muito doente e precisava de ajuda, eu resolvi vir e ajudá-lo... Mas agora... Agora ele está morto! E em breve sei que estarei também! Por isso me ouça: Você nunca deve entrar naquela casa! Nunca!

No dia em que cheguei, tudo parecia normal. Olhei para os lados e tudo era só uma floresta, não existiam construções exceto por aquela casa. Enquanto o Senhor Felipe dormia, eu passava horas observando aquele monumento histórico e velho. As pessoas de lá todos os dias faziam a mesma coisa: O pai da família ia cortar lenha na floresta, a mãe fazia o almoço assim que ele chegava, a filha brincava com suas bonecas na floresta e a empregada limpava devidamente as coisas.

Eu olhava aquelas pessoas e pensava na família perfeita e simples que nunca tive, com meus pais separados. Aquilo, de certa forma, me trazia paz. Não queria bisbilhotar tanto, mas o Senhor Felipe passava horas e horas dormindo e aquilo era um passaporte para observar todos enquanto, sem sucesso, tentava encontrar área no celular para avisar para minha irmã que tudo estava bem. Definitivamente, naquele lugar não pega nada... Absolutamente nada!

De repente, notei algo estranho na casa. Dessa vez, o pai da família trazia, em seu carrinho, a lenha coberta por um pano branco. Não entendi o porquê disso, mas não quis incomodá-los, afinal eu era o único errado da situação. A menina continuava a brincar com as bonecas, mas naquele mesmo dia, algo estranho também aconteceu em relação a ela. Em uma de suas brincadeiras, a criança conversou com o brinquedo e simplesmente surtou jogando boneca no chão e gritando... Enfim, achei que era só coisa de pequeninos.

No dia seguinte a este, tudo ficou mais estranho ainda. A empregada recebeu o pai da família com um lindo e generoso abraço. Achei tudo aquilo muito esquisito, pois havia muito contato físico. Enfim, eu não deveria me meter na vida dos outros, na verdade não deveria nem estar olhando... Mas era tentador. Ele pegou seu carrinho com o pano branco e o tirou, não vi o que tinha nele. Os dois despejaram o que quer que tinha dentro em um buraco e tocaram fogo enquanto riam. Do outro lado da casa, eu conseguia ver a mãe penteando os cabelos de sua filha, enquanto a menina brincava com uma de suas bonecas.

A brincadeira da menina não poderia se classificar como normal, pois após sua mãe sair ela pegou uma tesoura, resmungou algumas palavras para a boneca e cortou um de seu braços lentamente... Aquilo realmente me perturbou... Estava começando a achar que não era lá a família dos meus sonhos, mas de novo me martirizei por estar observando algo que não era da minha conta. Tentei não olhar mais para a casa, mas era tentador.

No outro dia, me peguei olhando mais uma vez para a casa depois de uma partida de xadrez com o Senhor Felipe, que havia ido dormir após o término de sua vitória. Os meus olhos fixaram-se na chegada do pai de família e seu encontro com a empregada. Eu não queria ver aquilo, mas um encontro de lábios aconteceu entre os dois. Traição. O que havia separado meus pais estava acontecendo diante dos meus olhos. Eu arregalei meus olhos na direção da cena, mas não podia fazer nada. Fui dormir com a cena em minha cabeça, relembrando a separação de meus pais quando eu era apenas uma indefesa criança.

Ainda de noite, ouvi barulhos vindo da casa. Olhei pela janela. Uma mulher de capa vermelha havia chegado na casa e conversava com a mãe da família, que chorava. Percebi logo que a mulher havia visto tudo e estava contando. Em minha cabeça, diversas imagens do casal se separando e deixando aquela pobre e doce menina para trás passaram-se, me deixando em choque. Elas conversaram por uma hora. Vistas por mim através da lamparina que a mulher encapada trazia consigo. Nas entrelinhas da janela atrás delas, outra cena de traição... Bem no meio da noite!

No outro dia de manhã, voltei a observá-los. O homem havia saído de madrugada e já estava voltando com seu carrinho. Alguma coisa estava saindo para fora do cobertor, mas não conseguia ver o que era. Lembrei do meu celular e resolvi dar um zoom discreto no carrinho enquanto ele preparava o buraco de todos os dias. Com certeza ele sempre deveria vir de manhã cedo, mas eu nunca havia observado. Quando dei um zoom, rapidamente ele jogou o conteúdo no buraco, mas eu vi algo... Eu juro que vi algo! Eu vi uma orelha humana! Eu não estou brincando! Eu me desesperei, só isso...

Não queria assustar o Senhor Felipe, por isso deixei ele assistindo TV ao entardecer e corri para verificar aquilo... Eu tinha certeza de que aquele homem havia cometido um crime! Cheguei silenciosamente. Fui na direção do buraco, mas já estava tampado. O céu pareceu escurecer mais rápido que o normal e resolvi voltar mais discretamente. De perto, a casa era mais velha do que eu pensava, as paredes estavam corroídas e não havia quaisquer caprichos ou reformas. Pensei como uma família poderia viver em uma casa cujo maior perigo se encontrava em um desabamento.

Enquanto voltava, ouvi uma discussão. Parecia ser a empregada e o homem. Ela gritava por seus direitos como... Por seus direitos como... Lutava por seus direitos como MÃE daquela menina! Eu pensei que não estava entendendo muito bem, mas era aquilo mesmo! A empregada era a mãe da menina e, pelo que entendi, o próprio pai biológico teria supostamente adotado a filha como se não fosse nada, para que pudesse criar o fruto do adultério em sua própria casa, sem sua esposa saber, um verdadeiro truque de mestre, mas algo aconteceu...

A mãe, estava voltando de um passei e... Ela ouviu tudo! Tudo mesmo! Silenciosamente saiu chorando para fora de casa. Eu queria ir falar com ela, mas eu tinha que ficar escondido... Alguém iria me ver! Tudo parecia uma cena dramática, até aquela mulher da capa vermelha encontrar a mulher, ela disse: "Vizinha, sabe o que tem que fazer". Ela entregou para a mãe da família um objeto que visualizei bem: Um machado. Ela entrou lentamente na casa. Ouvi gritos. Olhei desesperado para a vizinha e a vi sorrindo, segurando uma criança que, possivelmente, seria sua filha.

Seu olhar virou-se para mim e me localizou. Gelei. Minha reação foi levantar e correr aos choros. Cheguei agitado na casa do Senhor Felipe. Ele estava procurando por mim, para ajudá-lo no banho. Segurei ele e, fora de mim, falei: "Senhor Felipe, quem são os donos daquela casa? Aquele casal, a empregada e a menina... Quem são eles? Acho que eles estão em perigo!". O Senhor Felipe olhou para mim e disse suavemente: "Jovem, você deve estar cansado... Sente-se um pouco... Acontece que Graice e Dean Paik morreram há muitos anos..." Aquelas palavras me chocaram. Olhei para a casa, estava vazia. Questionei minha sanidade por um minuto até que olhei para o idoso e o vi sangrando, morto. A mulher de vermelho estava em pé, sorrindo para mim.

Você que está ouvindo essa fita, por favor, tem que me ajudar a sair desse lugar. Tenho que sair desse manicômio! Eu não estou louco! Eu vi aquilo! Alguém tem que acreditar em mim!

...

*A fita foi arquivada pela polícia, mas foi misteriosamente roubada do departamento de segurança. Os exames de Ullin Anderson não constataram problemas ou distúrbios, mas suas histórias sem fundamento podem caracterizar insanidade. O paciente não deve ter contato com nenhum outro, representa perigo. Resultado do caso policial não solucionado e processo em arquivo morto.

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