22 de outubro de 2016

Creepypasta: O Sorriso

Aquele parecia um dia comum. Meus dedos já estavam cansados de tanto digitar meu novo projeto de trabalho. Meu filho de 11 anos, Vinícius, veio a mim - como infelizmente sempre fazia - chorando. Ele queria um pouco mais de atenção. Confesso que meu trabalho exige muito de mim por isso nunca posso lhe dar o meu melhor. Notei que o papo de Vinícius estava um pouco diferente. Dessa vez ele queria ir ao circo comigo no período da noite. O olhar dele não me deixava negar este pedido. Consultei furiosa e detalhadamente minha agenda daquela noite para encaixar o horário perfeito para o programa proposto por meu amoroso filho. Selecionei o horário exato em que iria ocorrer um grande espetáculo no recém-chegado circo. Incrivelmente minha agenda estava vazia, o que nunca acontecia. Soltei um leve sorriso encarando Vinícius que esperava ansioso minha resposta. Eu falei um "Sim" e ele também sorriu.

A noite estava chegando lentamente. Já estávamos arrumados para partirmos para o circo animado da noite. Vinícius não parava de olhar para o computador que transmitia a imagem das atrações presentes na noite, que iam de palhaços simpáticos à perigosas acrobacias no ar. Faltando meia hora para o início do espetáculo, eu e meu filho saímos de casa ansiosos. Enquanto caminhávamos, Vinícius desenvolvia histórias incríveis e criativas. Meus olhos estavam focados no chão em que caminhava e no meu celular, esperando possíveis ligações de meu chefe. Confesso que o que Vinícius estava contando não me interessava nem um pouco, na verdade eu não estava prestando muita atenção.

Vinícius puxou minha camisa bruscamente. Guardei meu celular no bolso em grande velocidade. Perguntei suavemente: O que está havendo filho? Ele ergueu o dedo apontando para um parquinho ao mesmo tempo que sorria. Olhando melhor, eu percebi alguém balançando-se em um dos balanços infantis do parque. Ele calçava sapatos muito grandes e coloridos. Seus cabelos eram encaracolados e vermelhos, pareciam perucas. Retomando um pouco de minha visão prejudicada pela escuridão, eu identifiquei que aquela pessoa era um palhaço. A ideia de um palhaço em um parque deserto e pouco iluminado me perturbou um pouco.

Ele estava de costas, apenas se balançando. Meu filho olhava e sorria. Recebi a mensagem esperada de meu chefe acompanhada de uma imagem, a mensagem digital dizia: "Tenho uma reportagem nova e muito especial para você, é sobre um assassino em série que fugiu recentemente da prisão, há boatos de que ele se encontra agora na sua cidade. Os arquivos foram enviados por e-mail. Preciso dessa reportagem para amanhã, assim que você chegar no escritório. De seu chefe.". A imagem mostrava o rosto do homem. Ele era branco, olhos fundos e vazios e não apresentava cabelo. Sua boca também aparentava ter pequenos cortes no canto da boca.

Vinícius novamente puxou minha camisa. Ele apontou para o palhaço e cochichou: Papai, podemos brincar com ele? Os olhos dele não me deixavam recusar nada, então logo falei: Claro filho, você por acaso gostaria de tirar uma foto com ele também? Ele respondeu positivamente com a cabeça. Decidi me aproximar do palhaço aparentemente simpático do parque. Ele não parava de se balançar. Levantei minha mão lentamente e o chamei: Ei palhaço! Meu filho pode tirar uma foto com você? Eu não ouvi nenhuma resposta. Ele apenas parou o que estava fazendo e levantou-se, ainda de costas. Se não puder nós entenderemos! falei quando percebi que ele não estaria disposto.

O palhaço virou-se em direção a mim. Sua máscara apresentava vários cortes no rosto. Ele segurava numa das mãos uma espécie de machado com uma buzina, na outra ele carregava balões que subiam muito alto. Ele pressionou a buzina e começou a caminhar na minha direção. Meu filho começou a ficar assustado, ele falou imediatamente: Papai vamos embora! Eu estou com medo! Eu logo me dirigi ao palhaço que aumentava cada vez mais a velocidade de seus passos: Senhor palhaço, por favor, pare! Está assustando meu filho!

O palhaço soltou um sorriso evidente, tão largo que era visto até mesmo por cima da máscara. Ele começou a correr na minha direção. A buzina estava mais forte e estranha. Eu não sabia o que fazer. Antes de pensar em correr peguei meu celular e liguei para a polícia. O palhaço já estava perto o suficiente quando parou e voltou a nos observar. Alguém atendeu a ligação:
Policial: Alguma emergência?
Eu: Se... Senhor Policial! Pode parecer estranho, mas tem um palhaço atrás de mim e do meu filho... (Sussurrando)
Policial: Tenha o máximo de calma senhor... Onde você está?
Eu: Na praça dos fundos do bairro... (Sussurrando)
Policial: Estamos chegando!

Segurei com força a mão de Vinícius e tornei a andar de volta para casa devagar. O palhaço apertou a buzina como se estivesse nos mandando parar. Pude perceber as lágrimas de meu filho escorrer de seus olhos que gritavam de medo. O silêncio era a única coisa que permaneceu. Estávamos parados de costas para ele, mas eu podia ouvi-lo. Ele apertou a buzina mais uma vez e começou a correr em nossa direção novamente. Senti que era hora de correr. Dentre as árvores grandes do parque nos escondemos. Vinícius estava cada vez mais apavorado.

Ouvi alguém se aproximando, foi quando ele tocou aquela maldita buzina de novo. Ele tornou a nos ver. Soltou aquele mesmo largo sorriso, perceptível até mesmo estando coberto por uma grossa máscara de borracha. Olhando fixamente para o rosto do terrível palhaço eu perguntei: Quem é você? Ele riu alto e aos poucos foi retirando a máscara. O escuro não me ajudava muito a enxergar quem era aquele maníaco, mas ele próprio tirou uma lanterna acesa de seus bolsos longos e desajeitados e iluminou seu rosto.

Tomei um choque terrível. Ele era o assassino em série da imagem enviada pelo meu chefe. Ele estava ali na minha frente, com seu largo sorriso, que outrora estava escondido em uma máscara de palhaço, mas agora estava exposto. Ele ergueu seu machado o mais alto que pôde para cortar uma de minhas pernas, e conseguiu. Soltei um grito imenso de horror enquanto meu filho chorava e ele ria. O sangue já estava saindo muito quando ele ergueu novamente, desta vez para me matar, foi quando ele recebeu um tiro em sua perna, era a polícia. Ele estava sendo preso, mas ao mesmo tempo sorria incontrolavelmente.

Minha perna? Os médicos conseguiram colocá-la de volta depois de muito tratamento e tempo, mas ainda ando com dificuldade. Depois de tudo isso, ainda tenho pesadelos horríveis com aquele sorriso perturbador e só tenho uma coisa a dizer: Cuidado com esses palhaços que estão soltos, você não sabe quem está por trás da máscara.




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